9 de junho de 2017

A palmada pedagógica.

Leio muito por aí a crítica ao facto de 'os paizinhos de hoje em dia não darem palmadas nas crianças e criarem pequenos ditadores blá blá blá'. Há pouquíssimo tempo tive uma criança próxima diagnosticada com uma perturbação psiquiátrica, e alguém que respeito muito comentou algo como 'no meu tempo levava uma porrada de cinto e era fechado na casota do cão durante dois dias e estas coisas passavam-lhe logo'. Ainda se ouve muito a malta comentar que levava palmadas e 'não ficou traumatizado'.

Ora a minha mãe era adepta das palmadas. O meu pai não. A última estalada que levei foi na sequência de uma birra que fiz numa loja de animais porque queria uma tarântula de estimação. Tinha treze anos. A penúltima estalada que levei foi na sequência de ter andado à porrada com o meu irmão. Tinha doze anos e ele tinha três. De facto, não fiquei traumatizada. Mas acho que há uma questão que é muito importante referir:

Em Portugal, bater nas crianças é crime. Bater em qualquer pessoa é um crime.



E bater não é só dar porrada de cinto. Bater também é dar uma palmada, um estalo ou um puxão de orelhas.

Às vezes o Matias faz-me perder o controlo. É um facto. Mas o Pedro também me faz perder o controlo e não me apetece bater-lhe (quer dizer, se calhar até apetece, mas não o faço!). Ora porquê que perder o controlo nos faz dar 'palmadas pedagógicas' nos nossos filhos, mas não nos nossos maridos ou patrão? Porque a sociedade nos ensina que os filhos são nossos, logo nós mandamos neles e podemos invadir o espaço deles como nos apetece.

Mas não podemos. Não só porque é errado, mas também porque é um crime.

Por isso da próxima vez que glorificarem uma situação deste género pensem no que uma palmada realmente ensina a um miúdo. Porque os pais de hoje em dia não são tonhós por não baterem nos filhos, são é mais preocupados com algumas questões que antigamente não eram consideradas tão importantes.

(Desculpem lá o tom mais assertivo do texto, mas estou cansada de trabalhar com miúdos que são batidos. Caramba, a nossa sociedade já devia saber melhor do que isto!)